quinta-feira, 26 de junho de 2014

Alice in the matrix land

Essa história começa com uma dor de cabeça. Não era muito incomoda, mas era como pontadas, daquelas que incomodam nos primeiros cinco minutos, e nas próximas duas horas te fazem ter vontade de arrancar a própria cabeça. Foi assim que Alice encarou as duas aulas de física daquela manhã. Com uma vontade aluscinante de mandar o professor calar a boca. Por fim, já desesperada, tentou ser educada ao pedir para ir à enfermaria: "Minha cabeça está doendo muito, posso ir à enfermaria?" - ela quase gritou. Era meio obvio que estava impaciente.
Fato curioso: a enfermeira era sua mãe. O que tornava situações como essa muito menos constrangedoras, embora impossibilitasse "falsas doenças" para fugas. "Mãe, eu vou explodir. Serio. Me dê o mais forte que você tiver para dor de cabeça, por favor.". Ela sorriu. E Alice quase viu um certo cinismo em seu olhar. Mas pensou que talvez seria só essa dor de cabeça terrível. A mãe entregou-a duas pílulas grandes, uma pequenininha e um copo de água. Alice deitou-se na maca da enfermaria e ficou por lá, esperando a dor passar. Sua mãe acariciava de leve seu cabelo, sentada ao seu lado.
Uma garota entrou alguns longos minutos depois, meio pálida. Ela foi deixada de lado, mas compreendia. Elas se encaminharam para outra ala da enfermaria, para cuida-dos privados e Alice ficou sozinha. Começou a se sentir melhor alguns minutos depois, o que foi incrivelmente glorificante. "Manhê!, tô melhor, tô voltando pra sala!". Sua voz ecoou pela sala e um arrepio percorreu sua espinha. Não obteve resposta, mas imaginou que ela estava apenas ocupada com a outra garota. Os corredores ao seu redor pareciam muito mais frios e silenciosos. Espiou sua sala... mas ela estava vazia. "OI? A AULA ACABA MAIS CEDO E NINGUÉM ME AVISA!?". E por fim, uma gargalhada. Era ótimo, não importava se não tinham-na avisado. Ela caminha em direção a saida, mas então se lembra que sua mochila tinha ficado na enfermaria. Ao se virar para tomar o caminho de volta: um baque e alguém a derruba. Meio tonta, ela levanta o olhar para o meliante. Um garoto dos olhos vermelhos e sardas abundantes a encara. Meio segundo e seu rosto se vira para seu relógio de pulso. E novamente para ela. Ele a ajuda a levantar, um olhar de desculpas. Mas também, preocupado. Ele continua encarando o relógio sempre que pode. E, depois disso, corre novamente. "Ei, que aconteceu com seus olhos?" - ela tenta acompanhá-lo. "OI, TERRA CHAMANDO ESTRANHO!" - e ela logo percebe que foi muito, muito mal educada falando aquilo. "Oh, perdão! Acho que você está atrasado, não é? Tudo bem, pode ir..." - ela observa o vermelho correr e correr até desaparecer por uma parede. "Mas que diabos...". Ela fitava a cena de olhos arregalados. Se a vida fosse um filme, daqueles que repetem cenas absurdas em câmera lenta, essa seria uma delas, com certeza. Ela se aproximou da parede, tocou-a. E sua mao inteira atravessou o muro para sabe-se lá onde. E então ela foi simplesmente sugada, sem opção. Caiu com força numa grama macia e felpuda. Quase um tapete. Tateou o muro mas fosse a mágica que fosse havia a prendido ali. E ela estava começando a sentir algo estranho dentro de si. "Acho que são aqueles remédios... E isso e um sonho. Será que minha mae tentou me drogar?" - ela divagava alto, e nada naquele lugar parecia disposto a responde-la. Foi então que ela viu, fumando embaixo duma arvore ali por perto, uma garota. Os cabelos negros caiam leves ate a altura da cintura. As roupas coloridas, um sorriso de calma em seu rosto. Alice caminha ate ela. "Com licença, onde estamos?".
 A fumaça que saia do seu cigarro respondeu por ela. "O mundo dos indecisos" - Alice leu em voz alta. - "Mas sobre o que estou indecisa, então?". A moça encarou-a como se a resposta fosse obvia, mas, ao ver que a duvida no semblante de Alice só aumentara, desviou o olhar ao castelo que apontava no horizonte. A fumaça escrevia novamente. "Vá ver a rainha e diga a ela que suas dúvidas a chamam.". Alice foi tomada por um certo desespero. Quanto tempo aquilo duraria? Ela queria muito voltar para casa. Como se lendo seus pensamentos, novamente a moça/fumaça socorreu-a: "E a única tentativa de saída possível". Tentativa. A presença daquela palavra não ajudou muito a acalmar os ânimos de Alice. Cordial, ela agradeceu e decidiu que tentaria. E faria sua mae pagar por fosse o que fosse. Se aquilo era um sonho ou não, aquele incomodo parecia real o suficiente para fazê-la crer que deveria sair dali.
Horas de caminhada se passaram, mas Alice se sentia como se nada em seu corpo tivesse mudado. Não havia em si nenhum traço de cansaço ou fome, e ela estranhava a cada segundo mais todo aquele lugar. Por fim, ela avista a entrada do castelo. O guarda sorri ao vê-la. Um sorriso duvidosamente... Malicioso. Como se sentisse um prazer sádico pela sua chegada."Por favor, eu gostaria de ver a rainha". O soldado guiou-a por todos aqueles aposentos grandes demais até o salão principal. "Oh, ilustre rainha" - Alice fez uma reverencia, tentando demonstrar respeito. "venho ate a ti pois minhas dúvidas me chamam!". E Alice presenciou mais um dos olhares sádicos. Viu então um outro soldado ser enviado para cuidar dela e das suas dúvidas desconhecidas. Ela foi então encaminhada para uma sala, onde foi largada sozinha. Foi possível ouvir o trancafiar da chave. Ela olhou ao redor e tudo que viu foi uma caixa intitulada "Planeta numero três", duas pequenas garrafas, um bilhete e o que parecia ser uma porta para gigantes.
Ela encaminhou-se ate o bilhete e leu-o. "A azul te deixa maior. A vermelha, menor." Olhou em volta. Aproximou-se da porta gigante e tentou olhar por debaixo da mesma. Era muito escuro. Porem, ela ouvia vozes ao longe comentando sobre um tal planeta três que precisaria ser cuidado em breve. Examinou então, a caixa. Dentro dela orbitava algo semelhante ao que diziam der o planeta Terra. Mas muito. Muito menor. Alice podia sentir a duvida dentro de si:  qual deles era teu mundo? Ou, além: Qual deles era o melhor para se viver? Ela deixou o tempo passar enquanto refletia, duvidosa. E em duvida permanecia, quase um quarto mundo de tal em si fechada. Ela acaba por decidir pela pequena terra. Por se parecer com a terra mesmo. Decide reler o bilhete para se assegurar de tomar a garrafa certa, e então nota algo escrito em pequenas letras na beira da folha: "E as que sua mãe te deu? Elas não fizeram nada... Quem você vai culpar agora?". Ela olha em volta, o coração palpitando. A porta gigante se abre e ela se esconde, tremendo. Um homem cuja face Alice sequer via cuidava do planeta pelo qual Alice optara. Quase como se um... Brinquedo dele. Sorri, e depois fecha-se de novo. Alice treme. É que ela so agora se lembrou que sua mãe morrera na semana passada.
N.M., "É que se não são sonhos, são o que? Ilusões  do dia a dia? Seria o mundo simplesmente um jogo de números binários?"

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