segunda-feira, 21 de abril de 2014

Das nuvens e da morte

A felicidade parece estar sempre tão mais longe, a paz. Igual as nuvens brancas... acima das nuvens cinzas, como almas tão mais leves ou tão mais pesadas quanto carregarem medos e dores neste plano de fundo azul que é a existência.

Vasto painel cheio de imagens que nunca ficam, que sempre mutam e umas nas outras se transmutam, de almas que sempre se vão. Por entre as quais a morte parece uma entidade tão minúscula.

A morte sempre voa em círculos, como se estivesse indecisa ou como se não fosse comigo ou contigo. Insignificante o bastante para que nos assombre ao percebermos, de muito mais de perto, o quão grande são as suas asas e negras; a foice do bico que corta a carne podre é a jóia que coroa e se coroa em meio a sua cara horrenda.

Os medos e as dores acabam em morte, porque são vida. E diante do peso das nuvens que oprimem raros são os homens que seus sentimentos reprimem, que com chuva não se exprimem ao mesmo tempo em que um nos outros e uns contra os outros se espremem; fugindo da sua própria chuva, ao mesmo tempo uns dos outros sendo razão e abrigo dos próprios traumas e pavores.

A chuva os homens aflige. Persegue, atormenta e açoita. Tormentas que os arrastas em torrentes loucas até o frio do leito e os encurralam, com as costas contra a parede da noite. Noite que em suas trevas tudo encerra e diante da qual o coração, parece, a sua razão de ser encerra. Porque diante do noturno o homem se cala e contempla, e se reconhece; silencia os batimentos tamanho o medo diante da furiosa dança que é caos lamurioso do vento. Contudo não há dor no coração das trevas.

O coração pulsa no dia seguinte. Um dia após o outro. Como se que se de si tudo expulsa. Diante de si e acima o movimento das nuvens sendo uma fuga em repulsa, entre as almas do mundo vendo assonância em vez de rimas. Porque uma vez passada a tempestade tudo se desfaz... Não só as trevas, mas até as nuvens brancas, como se para tudo esquecer, tal uma alma que antes de reencarnar teve de esquecer o que soube das suas vidas passadas.

Hoje só o que parece restar é a plenitude do azul. A magnitude do vazio. Sob a qual uma ou outra nuvem que tenha restado da treva da última noite, contrariando a própria alvura, nada é além da sombra de um braço sinistro que ao longe parece agarrar os soberbos montes.

21 de abril de 2014 - 09h 31min
Olinda - Pernambuco - Brasil

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